O Mantenedor da Vida
Por Iago Ferraz Wild (Puck)
Hades entre os gregos, Plutão entre romanos e Aita entre os etruscos. O Senhor dos Mortos e do Submundo sempre intimidou os mortais devido suas associações como deidade. Platão afirmou que a pronúncia de seu nome era evitada ao máximo pelas pessoas e Homero foi mais longe, o descrevendo como o Deus mais odiado pelos mortais.
Por qual motivo Hades, que muitos supõem ser Zeus, Poseidon e Dionísio, foi tão temido e odiado? Por qual motivo, nas filosofias pagãs modernas, ainda é evitado e considerado intimidador por ser considerado um Deus Negro? Tudo isso se explica pela tendência do ser humano em se preocupar mais com a morte do que com a vida, mais com os fins do que com os inícios e meios.
Ah, a morte! A temida morte.
Tememos perder quem amamos, tememos que quem nos ama nos perca e, principalmente, tememos que a atual vida termine, pois o término é um constante lembrete do fato de que nós, independente da nossa arrogância específica, não temos controle. Sobre nada.
Como se não bastasse representar tudo o que mais tememos e não aceitamos, os mitos nos mostram Aita como o raptor daquilo que representa o que mais amamos e aceitamos: A vida, a fertilidade, a beleza... Mas, ignorando a maquiagem poética e romântica, encontramos no Senhor da Morte e em seu caráter raptor, no sofrimento de Deméter e Perséfone (se você não está familiarizadx, leia os mitos de Hades e Perséfone antes de continuar a leitura) e em todos os fins e sacrifícios, a mais importante face de Hades: O Mantenedor da Vida.
"The Mythological Tarot", O Arcano Maior "A Morte", do Tarot, é conhecido
por simbolizar a natureza cíclica, fins e renovações, representado por Hades neste deck.
Hades é a Terra e o seu interior. É o ciclador da vida. O Sequestro de Perséfone ilustra na verdade, a entrega e amor dela à Hades. Durante a Primavera e o Verão, a maioria das plantas e animais vivem fortes e saudáveis, pois essa vida e fertilidade são Perséfone, a Deusa das Plantas, sempre lembrada pelas flores e perfumes. Nesse propício período sazonal, podemos observar de forma bonita como a Natureza funciona: a vida dos carnívoros depende da vida dos herbívoros; a vida dos herbívoros depende da vida das plantas; a vida das plantas depende da fertilidade da terra.
E o que torna a terra fértil e permite que toda a vida continue a seguir? Perséfone! A belíssima Senhora das Flores e Perfumes, Rainha do Submundo.
É ela quem se entrega ao Senhor do Submundo, deixando que suas flores sequem, que suas folhas caiam, que suas frutas apodreçam e que seus caules e raízes morram. A entrada de Perséfone ao Submundo é a Promessa de Renascimento, a devolução de nutrientes e de riqueza para a Terra (Hades), que permite, ao final do período de Outono-Inverno, que a vida se renove e dance com Perséfone.
Em seu período nas profundezas, quando é chamada de Kore, Persephone me faz lembrar da simbologia dos animais que originaram a imagem chifruda de vários Deuses. Como o Veado que ao ser caçado, representa o sacrifício divino que é feito para que possamos sobreviver.
Persephone and Hades - Amy Erickson
Cada flor e cada folha que admiramos, cada fruta que comemos, é resultado da dança de Perséfone e do Deus da Morte, que também é o Mantenedor da Vida, o Senhor da Terra, Senhor dos Fungos e Decompositores, e portanto, um Deus da Vida.
Em cada folha caída, não importa a estação, um beijo de Perséfone em Hades. Em cada semente que brota, um beijo de Hades em Perséfone.
No próximo texto vou desenvolver um pouco mais o assunto, abordando os Mistérios Eleusinos.
Que a chuva molhe a terra e que você sinta o perfume de Hades ao subir do petrichor.
Texto de Iago Ferraz Wild (Puck)- Gruta do Bardo.
Material recomendado:
Confronto dos Deuses - Hades - Parte 1 (Obrigado, Illis)
Confronto dos Deuses - Hades - Parte 2 (Obrigado, Illis!)